Marcadas por forte atuação midiática, as movimentações para a disputa
eleitoral de 2014 acontecem em ritmo intenso. Dia a dia partidos e
políticos se posicionam, montando cenários por vezes surpreendentes,
pois inesperados; mas também enfadonhos, ao confirmar o vale-tudo para
ter o poder.
Os pré-candidatos vão sendo revelados.
Aliados realçam com cores vivas as qualidades do seu candidato.
Opositores carregam de tintas esmaecidas a face e história do
concorrente. A criatividade não enxerga limites. Nada escapa aos olhares
indiscretos e esmiuçadores dos diversos grupos. E assim os personagens
políticos são moldados para atender ao gosto das pesquisas de opinião e
expectativa dos eleitores; sob orientação e vigilância dos profissionais
de marketing.
Vejo muitos políticos agirem como
garimpeiros que, ao constatarem que o filão de ouro secará, buscam um
outro para sobreviver. Esse é o trabalho do garimpeiro, faço alusão
apenas para provocar a reflexão. No caso do político, é inquietante
observar que ideologia, sigla partidária, região de atuação, lealdade ao
grupo político e, o mais importante, respeito ao eleitor tornam-se
irrelevantes diante do desejo de eleição.
Tudo isso faz recordar o texto “Sobre
política e jardinagem” de Rubem Alves. No qual, de forma poética e
envolvente define a função do político ao compará-la a do jardineiro.
Retrata a política enquanto vocação e profissão. Afirma que “um político
por vocação é um poeta forte: ele tem o poder de transformar poemas
sobre jardins em jardins de verdade”. Todavia é ainda mais contundente
ao asseverar que “de todas as profissões, a política é a mais vil”.
Sombrio tempo o que vivemos, no qual a
prática política se tornou tão igual que parece restringir a definição
de situação e oposição apenas a estar ou não exercendo o poder. Ser do
grupo A, B ou C já não é credencial determinante ou excludente para o
nosso voto. Está tudo de tal forma junto e misturado que se o preceito
bíblico “Diga-me com quem andas e te direi quem és” fosse indiscriminada
e amplamente adotado como critério de escolha eleitoral, teríamos um
massivo e surpreendente número de votos nulos, como “nunca antes visto
nesse estado e país”.
Minha esperança é alimentada por
reconhecer que existem aqueles que também se cansaram desse mero jogo de
retórica, característico da disputa pelo poder. E combatem a política
profissional construindo, no mais das vezes anonimamente, um grande
jardim que beneficie toda a humanidade – no dizer de Rubem Alves.
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